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As Minhas 15 Mais

20 de agosto de 2010

Flor de Inverno


Tudo aconteceu no inverno em Praga, eu era mais um dos médicos na Universidade de Carlos... Sabe aquela vontade que a gente tem de mudar o mundo e fazer da medicina um grande caminho para as transformações sociais?  
Essa universidade era uma das maiores da Tchecoslováquia, vivia com alguns amigos, uma fenestra ruela de pedras largas, sem meios fios aparentes, onde as casas são como se fossem gêmeas, algumas até parecem sobrepostas às outras, tudo margeava o Rio Vltava, bem próximo à sua margem esquerda estava o Castelo Hradcany do século XVII.
Era uma dessas tardes bem frias, vento seco vindo da Boêmia com os ares mais antigos e grotescos de uma Europa Medieval, foi quando tomado por uma incrível presença percebi, sentada, à beira da ponte de Carlos, Helena.
Tive certeza de quanto Deus é Misericordioso! Ela tinha um broche verde, abrilhantado à sombra de seu cabelo à esquerda, seus olhos... Ah... Seus olhos! Eram esmeraldas à procura de seu descobridor.
A força dos vinhedos enredou-me por misteriosos lampejos, ela era para mim a aparição edificante, como se fosse a celebração na Catedral de São Vitor, suas mãos acariciavam folha por folha de um romance de Milan Kundera. Não tive dúvidas, me transportei às lendas mais antigas à procura do elixir da longa vida. Diz a lenda do Rei Rodolf II que ao encontrares o amor de sua vida, seu espírito seria agraciado com a eternidade.
E então, nossos olhares se cruzaram e se doaram, carmelitamente, como se fora um milagre, eles de tão insólitos se tornaram pitorescos, um à procura do outro.
Nada foi dito... E não é preciso dizer muito quando encontramos aquilo que procuramos por toda a vida. Nada foi dito! Nossos membros se tocaram de forma incandescente, o suor ao vento, ao frio, ao rio... Nossos beijos surdos, noturnos, apostolados, era panorama do céu, do mar e do rio.
Helena me fez compreender porque muitos viveram e morreram à primavera de Praga, me fez entender a força dos guerreiros tchecos e eslavos; me fez compreender que entre as colinas, os homens serão para sempre em suas histórias e delas restaram as recordações das flores, das pedras sentinelas, caladas pelos canhões soviéticos.

Um comentário:

lourdes disse...

Flor de Inverno é uma linda crônica. Transportou-me até Praga, onde as paisagens do RIO VLTAVA são de uma beleza ímpar e o romantismo aflora no pensamento.
Parabéns!!!!!!!!!!!!
Que DEUS esteja sempre com você.
Bjos