Miradouro, como a maioria dos pequenos municípios desta região da Zona da Mata Mineira, tem 50% de sua população vivendo no campo, predominando a agricultura familiar. Assim como nos demais municípios, a principal atividade produtiva é a produção leiteira. Os produtores de leite de Miradouro trabalhavam com o método tradicional de armazenamento e transporte do leite: ou seja, ainda utilizavam as latas, nas quais o produto permanecia em temperatura ambiente até ser levado à indústria, comprometendo assim sua qualidade. Nessas condições o leite passava a apresentar baixa qualidade para a indústria, que paga por ele um valor abaixo da média ao produtor.
Identificamos, ainda, que o rebanho dos produtores se alimentava apenas de pastagem, fator que prejudica intensamente a produção em função da falta de alimentos durante a seca. Esses produtores não contavam com a infraestrutura adequada para o escoamento da produção. Além disso, individualmente, não tinham força política para negociar o preço da produção, recebendo, assim, uma quantia irrisória por litro de leite, ficando sem condições de investir em suas propriedades e mantendo uma qualidade de vida precária, sem perspectivas de futuro.
Para resolver esses problemas e dar um futuro digno aos produtores, foi criado em 2005, o Projeto “Ouro Branco”.
Este projeto consiste na implantação de um novo paradigma para os produtores, pois, até então, a única forma de atuação deste segmento no município era de maneira isolada, e, dentro do projeto, a diretriz básica é o associativismo.
Foram criados 23 núcleos de produtores e a prefeitura fez um projeto para captação de recursos junto ao PRONAF para a instalação de tanques resfriadores em cada núcleo, que atendem aproximadamente 12 famílias por núcleo. Desta forma, cada família produz o leite e o leva imediatamente ao tanque de resfriamento de seu núcleo, garantindo a qualidade do produto e aumentando assim seu valor de venda.
Como forma de melhorar a qualidade e a produtividade dos animais, o projeto distribuiu gratuitamente 72 toneladas de mudas de cana de alta produtividade, adaptadas à região e aprovadas pela EMBRAPA. A prefeitura disponibilizou um trator para a aração da terra, do qual o produtor paga apenas o combustível, fornecendo suporte técnico necessário para orientar o plantio das capineiras, irrigação e divisão de pastagens, fator que garantiu um rebanho bem alimentado e aumentou assim de forma considerável a produção e a média anual por produtor.
Na fase de melhoramento genético, foi trabalhada a melhoria do rebanho de forma gradativa: foram selecionados os melhores animais e iniciado o processo de inseminação artificial. Para tanto, a prefeitura firmou parceria com indústrias e empresas do ramo, e as mesmas patrocinaram a realização de 23 cursos, sendo um em cada núcleo. Todos os membros da família foram capacitados, e, assim, cada produtor cuida do seu rebanho sem precisar contratar mão de obra de terceiros. As propriedades recebem visita gratuita do técnico da empresa parceira, que faz o acasalamento genético, indicando o sêmen certo para cada animal.
A prefeitura comprou 11 botijões de sêmen, e outros 12 foram adquiridos em parceria com a UFJF. De acordo com a orientação técnica, os produtores utilizam o material para a inseminação do rebanho, o que garantiu, em pouco tempo, melhoria significativa do rebanho e aumentou consideravelmente a produção de leite.
Com a finalidade de diminuir o custo do transporte, o município adquiriu um caminhão adequado para transportar o leite, sendo responsável pela manutenção do veículo e pelo pagamento do motorista. O combustível é dividido entre as 280 famílias envolvidas no projeto.
Foi implantado o “Programa de Educação do Campo”. Essa iniciativa resultou na implantação dos anos finais do ensino fundamental em toda a Zona Rural. Hoje, temos na grade curricular o conteúdo de práticas agrícolas, com aulas práticas nas propriedades piloto. Buscamos trabalhar a autoestima de nossos alunos rurais, ensinando que o homem do campo deve olhar com a cabeça erguida ao horizonte, tendo sempre orgulho de sua história e de sua gente, objetivando a permanência das famílias no campo.
Reestruturamos a Secretaria de Saúde, criamos então polos de saúde dentro das propriedades piloto. Aumentamos mais 2 equipes de PSF e criamos mais 4 equipes de saúde bucal para atender as pessoas em suas localidades, como também, fizemos o cercamento das nascentes de águas e construção de fossas sépticas nas propriedades envolvidas no projeto.
Se o analfabeto se matricular no Programa Brasil Alfabetizado e manter o cartão de vacina de seus filhos em dia, frequência escolar acima de 75%, comparecer às palestras bimestrais proporcionadas pela equipe de técnicos que dão suporte ao projeto, melhorando não apenas sua renda, mas sua qualidade de vida.
Para a implantação do Projeto Ouro Branco foram realizadas oficinas teórico-práticas, havendo análise da vocação do indivíduo e sendo necessárias muitas reuniões para transmitir segurança aos associados. Afinal, eles estavam inseguros por adaptar suas propriedades a uma nova cultura, rompendo e às vezes aprimorando as práticas adotadas até então. A sistemática do projeto trabalhou o associativismo, mostrando à população que era fácil a realização do projeto em função da agregação e otimização do que já era produzido.
O projeto criou núcleos de pequenos agricultores que possuíam entre 1 e 30 hectares, sendo esse o público-alvo do projeto. Aproximadamente 260 a 280 famílias foram divididas em núcleos por regiões. Num primeiro momento, houve a formação das ASSOCIAÇÕES. A prefeitura construiu 23 galpões responsabilizando-se pela logística, parte elétrica e hidráulica e com recursos vindos em parte do ICMS e em parte do IPTU. Ainda nessa fase, foram adquiridos 23 tanques de resfriamento do leite com recursos provenientes do PRONAF.
Num segundo momento, os técnicos da Prefeitura, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da EMATER, atuaram nas propriedades transmitindo conhecimentos sobre manejo, qualidade do leite, sanidade do rebanho e sobre o gerenciamento das propriedades. Além disso, nesta fase foi colocada à disposição do projeto dois tratores, e cada proprietário envolvido pagaria apenas o óleo, ou seja, o equivalente a R$ 13,00 por hora, e teria direito a 10 horas de uso do trator em sua propriedade.
O projeto também realizou um mapeamento do melhor tipo de alimentação para o gado da região. Após este mapeamento realizado em parceria com a EMBRAPA, a prefeitura adquiriu 72 toneladas de capineiras e mudas de cana e distribuiu às famílias envolvidas.
Visando dar continuidade ao projeto, a prefeitura manteve contato com empresas e entidades que atuam no ramo da inseminação artificial, de modo que estas pudessem capacitar as famílias com essa tecnologia, possibilitando a melhoria genética do plantel. Para finalizar esta etapa do projeto, a prefeitura adquiriu um caminhão apropriado para transporte do leite e o colocou à disposição dos produtores participantes.
* Dar uma vida digna ao homem do campo, valorizando a vocação do município e evitando o êxodo rural;
* Aumentar os postos de trabalho na cultura do leite;
* Elevar a renda dos produtores rurais;
* Erradicar a desnutrição no município;
* Fortalecer o cooperativismo;
* Preservar o meio ambiente.
Resultados:
• Antes da criação do projeto, em 2005, a produção de leite dos produtores envolvidos era de aproximadamente 1.700 litros/dia, sendo comercializada pelo valor de R$ 0,40 o litro, o que alcançava um faturamento bruto mensal de R$ 20.400,00. Hoje, após a implantação do Projeto Ouro Branco, a produção das mesmas famílias é de 10.000 litros/dia, sendo agora comercializada por R$ 0,75 o litro, o que proporciona um faturamento bruto mensal de R$ 225.000,00, representando um aumento de 1.103% no faturamento.
• O conjunto de ações integradas e articuladas promoveu grandes avanços. Tínhamos, em 2005, 189 crianças desnutridas no município: zeramos esse número. Em 2009 temos apenas 40 crianças com baixo peso. Em 2005 tínhamos 21% da população de analfabetos, em 2008 somamos apenas 7%. O índice de desenvolvimento da Educação Básica era, em 2005, 3,7 e em 2008 avançou para 5.
• Constituição de 23 núcleos de produtores que a partir do projeto passaram a negociar sempre em conjunto, melhorando o preço de venda e reduzindo os custos de produção.
• Recebimento de um prêmio do Instituto Ambiental Biosfera pelo cercamento de nascentes em 40 propriedades envolvidas no Projeto Ouro Branco.
• Aumento da arrecadação municipal com o repasse do ICMS em torno de 30%.
• Dinamismo na economia local, com a abertura de 3 novas empresas ligadas ao leite.
• Melhoria da qualidade de vida dos produtores, em 90% das famílias, havendo a compra ou troca de veículos e motos, aquisição de antenas parabólicas, aparelho de DVD e a substituição dos telhados das residências, de telha de amianto para telhas de barro.
• Geração de 90 postos de trabalho, sendo 50 diretos e 40 indiretos.
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